sexta-feira, 12 de março de 2010

NO ALTO SANTA ROSA

Quando passava naquela rua ouvia o assobio do vento, as casas eram de madeira. Havia diversas madeireiras e todas as casas eram humildes, mas com pessoas felizes e trabalhadoras. A criançada corria e corria, ouvia-se gritos e muitas gargalhadas. À sombra, as mulheres conversavam, algumas costuravam colchas de retalhos, outras desfiavam malhas formando buchas para vender nos postos de gasolina.

A noitinha, sentia-se o cheiro gostoso do café torrado em casa, batido no pilão., que D. Maria acabara de passar e esquentara no fogão a lenha, lenha que fora catada no fundo do quintal. O café fora servido com pão quentinho, que Verinha comprara na venda de Seu Aristides. O pão veio embrulhado naquele papel madeira, que dá o gostinho peculiar ao alimento, à mesa também tinha bolacha canela. Que delícia!

Na casa não existia nem saneamento básico, as necessidades, eles faziam no matinho. Mas onde estaria os governantes que não viam aquela situação? Em Brasília era a certeza. Preocupados com mais um aniversário daquela cidade, que era a cara do Nordeste, famílias e mais famílias foram embora em busca de emprego na construção da Transamazônica.

Os pais de Geraldo e Verinha tinham vontade de partir, mas a idade não permitia. O velho Luís sentia dores lombares, pois trabalhava alugado em um roçado e D. Maria era a rezadeira do bairro, rezava olhado, ventre caído e outras. A Santinha ficava lá no oratório, sempre com muitas velas acesas para iluminar os caminhos daquela gente. Gente forte que a cada dia pedia mais e mais proteção ao Pai Celestial para que não faltasse o pão de cada dia.

Outros moradores venderam suas casas e foram para São Paulo, trabalhar e tentar uma vida melhor...com diriam alguns compatriotas: - Foram fazer fortuna!

Meu Deus, quantas vidas sofridas, que buscaram na fé, na vontade e na ousadia, dias melhores, nos grandes centros urbanos, deixando para trás a sua cidade natal, a cidade do grande Mestre Vitalino, que fez do barro riqueza para sua gente.

“ Valei-me, meu Padim Ciço e a Mãe de Deus das Candeias!”

(Luiza Pinto Moura. Memórias: Março, 2010)

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